martes, 23 de octubre de 2012
Poesia e Arquitetura: César Vallejo (tradução: Igor Fracalossi)
Quero me perder por falta de caminhos. Sinto ânsia de me perder definitivamente, não já no mundo nem na moral, senão na vida e por obra da vida. Odeio as ruas e as sendas, que não permitem se perder. A cidade e o campo são assim. Não é possível neles a perda, que não a perdição, de um espírito. No campo e na cidade, se está demasiado assistido de rotas, setas e sinais, para poder se perder. Se está ali indefectivelmente limitado, ao norte, ao sul, ao leste, ao oeste. Se está ali irremediavelmente situado. Ao invés do que ocorreu a Wilde, na manhã que ia morrer em Paris, me ocorre na cidade amanhecer sempre rodeado de tudo, do pente, da barra de sabão, de tudo. Amanheço no mundo e com o mundo, em mim mesmo e comigo mesmo. Chamo e inevitavelmente me respondem e se ouve minha chamada. Saio à rua e há rua. Me ponho a pensar e há sempre pensamento. Isto é desesperante.
VALLEJO, César. “Contra el secreto profesional”
Morrerei em Paris com aguaceiro,
um dia do qual tenho já o recordo,
Morrerei em Paris –e não corro–
talvez uma quinta, como é hoje, de outono.
Quinta será, porque hoje, quinta, que proso
estes versos, os úmeros me pus
a la mala e, jamais como hoje, voltei,
com todo meu caminho, a me ver só.
César Vallejo morreu, lhe batiam
todos sem que ele lhes faça nada;
lhe davam duro com um pau e duro
também com uma soga; são testemunhos
as quintas-feiras e os ossos úmeros,
a solidão, a chuva, os caminhos…
VALLEJO, César. “Piedra Negra sobre una Piedra Blanca”
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